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sexta-feira, junho 10, 2005

A ENTREVISTA "PERDIDA"




Passada uma semana da tour do grupo norte-americano W.A.S.P. pelo Brasil, lembrei de uma entrevista que fiz há dois meses com o vocalista, guitarrista e líder da banda, Blackie Lawless, para o jornal A Notícia. A matéria foi publicada no caderno "Anexo" e pode ser lida clicando aqui. Os editores da revista Valhalla, da qual sou colaborador, me pediram para aproveitar o material e escrever uma versão para a edição de junho, período dos shows em São Paulo (SP) e Curitiba (SP), além de outras cidades da América Latina.

Como eu sabia que meu espaço no jornal não seria muito extenso, não criei uma pauta muito ampla e o resultado final ficou muito pequeno para uma matéria de capa para a revista. A solução seria solicitar à gravadora do W.A.S.P. no Brasil, a Century Media, uma conversa complementar com o músico. Infelizmente, por problemas operacionais, a segunda entrevista - que seria feita por um colega na redação da Valhalla, em Sorocaba (SP), acabou não acontecendo. A versão impressa em A Notícia foi apenas uma parte do material total que disponho, então resolvi publicar a íntegra aqui no blog, para que não fique perdido no HD aqui do computador.

Todas as fotos deste post são de Pepe Brandão. Foram tiradas no show de sábado, 04 de junho de 2005, na Via Funchal, em São Paulo.

Entrevista com Blackie Lawless:
Bonassoli - O primeiro álbum do W.A.S.P. que comprei foi em 1984. Fiquei louco quando ouvi "The Torture Never Stops" e pensei comigo mesmo quando vocês viriam ao Brasil para uma tour. Depois de 21 anos, finalmente aqui vêm vocês. Por quê o grupo levou tanto tempo para tocar no Brasil?


Inusitado: Lawless literalmente sobe no pedestal

Blackie Lawless - Promotores (de shows). Eles nunca acreditaram que o W.A.S.P. tivesse fãs na América do Sul ou no Brasil. E nós ficamos falando para eles durante todos estes anos que nós temos uma forte base de fãs aí. Agora, finalmente, eles nos deram uma chance. Eu estou irritado, a banda está irritada e os fãs estão irritados porquê eles nos fizeram esperar por tanto tempo. Nós vamos aí e mostrar para os promotores porquê eles deveriam ter nos levado há tanto tempo.

B - Você disse em sua última entrevista para a revista Valhalla que trabalhou em "The Neon God" durante cerca de 10 anos. Isso nos leva de volta ao ano de 1995, apenas três anos depois de "The Crimson Idol", um disco cuja temática é semelhante às duas partes de "The Neon God". Você fala sobre religião tomando controle do homem. Estes temas sobre religião, fanatismo são tão importantes para você ou foi apenas coincidência?

BL - Sim, religião é importante. Mas há uma diferença básica entre os dois álbuns. "The Crimson Idol" é uma história bem simples, sobre um garoto que está procurando pela aprovação e o amor de seus pais. Com "The Neon God" a história é mais complexa. Quando eu a compus, me fiz aquelas questões básicas que todos fazemos, "quem sou eu?", "minha vida tem sentido?", "Deus existe?". E pensei que precisava de um modo de colocar tudo isso em uma letra de música. E cheguei à "Deus, por quê eu estou aqui?". E esta é, provavelmente, a questão que nós (a humanidade) mais temos feito.

B - Alguns dias atrás acompanhamos em detalhes a morte do Papa. Um tema que foi explorado intensamente pela mídia. Como o Brasil é o maior país católico do mundo, você pode imaginar o quê a imprensa fez por aqui. O Papa estava em todo canal de TV, revista e programas de rádio. Apesar de ele ter tentado trazer a paz e a tolerância entre as diferentes religiões, cometeu alguns erros com temas polêmicos como, por exemplo, proibir o uso de preservativos na era da Aids. Você acha que o Papa foi um "Neon God"?

BL - (Silêncio). Essa é uma questão interessante. (Mais silêncio). Primeiro é preciso explicar o que é o título "The Neon God". Significa, iluminar, criar algo que seja artificial, colocar luz em algo artificial. Para mim, colocar o Papa nesta categoria seria injusto, porquê eu não sei muito sobre ele. Mas é uma boa e eu te aplaudo. Vou pensar mais nesta questão.

B - Ainda na sua conversa mais recente com a Valhalla, você comentou sobre a mudança com o passar dos anos das temáticas de suas composições. De sexo, drogas e rock and roll passando algo mais adulto. Isso deve continuar no próximo trabalho do W.A.S.P.?

BL - Sim, eu realmente fiquei mais sério. Mas algumas vezes eu volto ao passado, como em "Helldorado", que foi uma celebração. Para ser honesto, depois de ter trabalhado em "The Crimson Idol" e as tours seguintes e de ter gravado "The Neon God", estamos prontos para voltar ao começo.

B - Como esta será sua primeira vinda ao Brasil, podemos esperar um setlist com as canções antigas? Eu posso esperar que vocês toquem "The Torture Never Stops"?

BL - Nunca fomos ao Brasil. Achamos que é muito importante mostrar aos fãs o que fizemos no início. Vamos fazer um show que será muito, muito similar ao que fazíamos em 1993 e 1994. Vamos levar todo o sangue, todas as serras, pois achamos que devemos isso para vocês. Não sei se tocaremos "The Torture Never Stops", mas tocaremos "Fuck Like A Beast", "I Wanna Be Somebody", "L.O.V.E. Machine", "Wild Child", "Blind In Texas". Todas as clássicas do W.A.S.P. Não vamos nos concentrar em "The Neon God", podemos até tocas duas ou três faixas. Se o Brasil tivesse nos visto várias vezes no passado, aí eu poderia te dizer que iríamos nos concentrar mais no novo álbum.


Frontman: o vocalista teve a platéia nas mãos, como os fãs esperavam

B - Quais são seus planos depois desta tour?

BL - Voltaremos para os Estados Unidos e continuaremos a tour por mais seis semanas, depois vamos fazer alguns festivais na Europa. Então voltaremos para começar o próximo álbum. E, como eu disse, o próximo será muito parecido com o que fazíamos no começo.

B - Sei que muitos já te perguntaram isso antes e que você deve ter respondido muitas vezes, mas, qual o significado do nome W.A.S.P. para você?

BL - Honestamente, este nome é controverso. Por causa dos pontos após as letras. Nenhuma banda havia feito isso antes. E depois muitas fizeram. Então, obviamente, foi uma boa idéia. E sabíamos que colocando os pontos estaríamos criando controvérsia. E foi melhor do que eu jamais sonhei que pudesse ser. Para mim, o significado é o que você quiser que seja. Eu nunca quis que tivesse apenas um significado. Eu queria criar controvérsia.

B - Você é descendente de índios, certo? Você conhece as tribos indígenas brasileiras? Sabe da realidade delas?

BL - Sim, sou descendente dos índios Black Foot (Pés Pretos). Sim, conheço porquê estive aí em 1992 e vi muitos deles e foi muito triste para mim. Fiquei chocado. Eu sou um cidadão americano, mas também sou um índio americano e tenho sentimentos muito fortes sobre isso.

B - No álbum "Dying For The World" você fez sérias críticas aos atentados terroristas de 11 de Setembro. Algo compreensível, pois seu país foi atacado. Mas agora vemos as tropas americanas no Iraque há dois anos. Milhares de civis estão morrendo, muitos soldados americanos estão morrendo. Qual sua opinião sobre a política externa dos Estados Unidos?


Malabarista: O pedestal se transforma, em vários momentos, num verdadeiro balanço, levando seu "piloto" ora quase ao chão do palco, ora quase sobre a primeira fila do público

BL - Não acho que (a política) seja nova. Os Estados Unidos têm feito isso há muitos anos. Em "Still Not Black Enough" eu escrevi uma canção sobre isso, "Goodbye América". E sou bem crítico contra isso. É como eu disse em "Dying For The World": me sinto como se tivesse nascido de dois pais. Um europeu branco e um índio americano. E há um conflito entre ambos. Ouço sempre esta questão: o quê eu acho sobre a política americana, acho que foi na França ou na Alemanha. Minha resposta foi "por quê você está me perguntando isso? Vocês é que foram ao meu país, invadiram-no e o tomaram". O que quero dizer é o que os Estados Unidos estão fazendo agora é o mesmo que os europeus brancos e imperialistas fizeram no passado. A América do Sul é uma prova disso. Eles vieram e tomaram tudo o que quiseram, quando quiseram. Não há diferença.

[Ouvindo: W.A.S.P. - Trail Of Tears - Álbum: Dying For The World]

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