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sexta-feira, abril 01, 2005

O PRIMO DE JESUS CRISTO



Recomendo uma visita à Casa Proença, onde o Gian publicou um post muito legal sobre uma lendária encenação da Paixão de Cristo na valorosa cidade de Sombrio.

Ao ler a história, lembrei de uma passagem semelhante ocorrida na minha infância. Meus pais sempre foram católicos praticantes e em Curitibanos integravam um grupo chamado "Lareira", ou algo assim. Não sei qual era o objetivo do citado grupo - e tô com uma baita preguiça de ir ali perguntar para a minha progenitora - mas, acredito, era diretamente ligado à Igreja. Bom, lá por 1977, se meus neurônios não me enganam, meu velho foi escalado para interpretar João Batista em uma peça teatral algum tempo antes da Semana Santa.

Fomos assistir e eu sem entender o que estava acontecendo ali. Só sabia que, a partir daquele momento, meu pai não se chamava mais Jaime. Agora era João Batista, primo do Jesus Cristo. E eu todo empolgado com a promoção dele, não via a hora de chegar na escola e contar para a raça. A molecada, certamente, iria se morder de inveja. Tudo isso para contar que é daquela noite, minha descoberta das mulheres como... hã... digamos... mulheres. Explico: pouco antes da decapitação do João Batista, no caso, o meu pai, que até momentos antes se chamava Jaime, sobe ao palco a Salomé. Uma loura dos olhos azuis vestida com brancas e transparentes roupas, coberta de lenços coloridos sobre sua alva pele.

Por quê diabos são sempre as louras? Bom, sei lá. Mas lembro que o mundo meio que parou. Era muito para uma noite só. Aos cinco anos, descubro que o meu pai é primo de Jesus Cristo. Por extensão, sou parente do Santo Homem. E ainda me surge aquela loura... Nem lembro se ela era bonita mesmo, mas, para um piá de cinco anos, ela era poderosa. E a danada dançava, girando de um lado para outro e eu já meio tonto, mal sabendo que após a tal dança ela pediria a cabeça do João Batista, meu velho, na época nem tão velho, pois tinha apenas 27 anos, numa bandeja.

Eu ainda embasbacado com aquela loura e eis que surgem uns guardas com espada na cinta e prendem o João Batista, primo do meu mais novo primo, Jesus Cristo. Eu até estranhei, pois achei que conhecia aqueles guardas. Um deles, tenho certeza, trabalhava com meu pai na revenda da Volkswagen. Sem saber o quê estava rolando, vi amarrerem o marido da minha mãe e levá-lo para um guilhotina onde, apesar dos meus gritos de desespero e do meu choro de filho prestes à se tornar órfão, decapitaram o primo do Jesus. Como se não bastasse terem tirado a loura do palco, cortaram a cabeça do meu amigo e pai e ainda mostraram-na em uma bandeja. Na verdade, era apenas uma peruca. Mas quem é que conseguiria explicar isso prum guri de cinco anos de idade?

Mais tarde, entendi que era tudo de mentirinha, que meu pai tava vivo, que não éramos parentes da Sagrada Família, pelo menos não consagüíneamente, e que a loura não desejava que eu virasse órfão. Meses depois, eu impressionava minha primeira namorada, contando toda esta papagaiada sob uma das mesas na sala de aula, durante a hora do recreio, quando nos encontrávamos para nossos primeiros beijos. Enquanto a galera brincava de correr um atrás do outro eu preferia ficar com a Cíntia. Não por acaso, loura de olhos azuis.

[Ouvindo: Gualfin - Golpe de Verano - South American Stoner Rock / Loco Gringos Have A Party]


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