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quarta-feira, março 02, 2005

TIO SAM SEM SOBRINHOS



O texto abaixo é auto-explicativo. Dá o que pensar sobre o futuro do continente.


ANÁLISE

Mais longe dos EUA
RUPERT CORNWELL
DO "INDEPENDENT"

Em cerimônias de posse presidenciais, como em casamentos, a lista de convidados diz tudo. Ontem, em Montevidéu, Tabaré Vázquez tomou posse como o primeiro presidente de esquerda em 180 anos de história do Uruguai. É um fato notável. Mas mais impressionante é a lista de dignitários estrangeiros presentes. Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente centro-esquerdista do Brasil, compareceu. E o mesmo se aplica a Hugo Chávez, o loquaz demagogo que lidera a Venezuela, e a Néstor Kirchner, da Argentina. Nenhuma cerimônia poderia simbolizar melhor a lenta deriva da América Latina para longe da órbita dos EUA.

Até 31 de outubro, o Uruguai era visto como um dos mais leais aliados de Washington no continente. Mas naquele dia Vázquez, oncologista que foi prefeito de Montevidéu, rompeu o tradicional molde bipartidário da política uruguaia ao levar a coalizão esquerdista Frente Ampla a uma vitória eleitoral esmagadora. Hoje, o número de aliados abertos e 100% fiéis de Washington ao sul de sua fronteira com o México não ultrapassa um ou dois. El Salvador e Honduras, com certeza, mas alguém mais? Mesmo o Chile desafiou a superpotência ao se recusar a apoiar a invasão ao Iraque.
Em lugar da velha ordem, um bloco de centro-esquerda vem emergindo. Embora não se oponham necessariamente aos EUA em todas as questões, nenhum desses países segue automaticamente a liderança americana.

Nos últimos anos, a abordagem dos EUA para a América Latina foi distorcida de maneira irrecuperável pela obsessão de Washington quanto a uma ilha de tamanho modesto, Cuba. Os EUA também tentaram intimidar Chávez, apoiando um golpe de Estado fracassado contra ele em 2002 e depois criticando-o sem parar. Agora Chávez assume posições cada vez mais audazes. "Washington planeja minha morte", diz, usando tática castrista para mobilizar simpatizantes.

No passado, os EUA tentavam compreender a América Latina. Na década de 30, o presidente Franklin Roosevelt compreendeu que intervenções militares em Cuba e outras nações do hemisfério eram contraproducentes. Desenvolveu, então, a "política de boa vizinhança". Duas décadas mais tarde, John Kennedy proclamou a Aliança para o Progresso. De lá para cá, porém, a diplomacia americana vem demonstrando enorme ineficiência. Sua obsessão ilógica com relação a Cuba, a insistência em ver o mundo por um único prisma cegaram os EUA quanto às sensibilidades da região. Durante a Guerra Fria, Washington apoiou um elenco de desagradáveis ditadores militares contra o poder soviético.

Mais tarde, a insistência americana em políticas fiscais rigorosas terminou por ser apontada como principal responsável por uma série de crises financeiras.
"Os EUA sofreram derrotas em todas as frentes", diz Larry Birns, diretor do Conselho de Assuntos Hemisféricos, em Washington. "A América Latina não está mais circunscrita ao hemisfério que ocupa, como um conjunto de países no quintal dos EUA."

[Ouvindo: Arch Enemy - We Will Rise - Dead Eyes See No Future ep]

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